sábado, 24 de abril de 2010

Quem “controla” a mídia?

Por Venício A. de Lima

Você já ouviu falar em Alexander Lebedev, Alexander Pugachev, Rupert Murdoch, Carlos Slim ou Nuno Rocha dos Santos Vasconcelos? Talvez não, mas eles já "controlam" boa parte da informação e do entretenimento que circulam no planeta e, muito provavelmente, chegam diariamente até você, leitor(a).

Enquanto na América Latina, inclusive no Brasil, a grande mídia continua a fazer de conta que as ameaças à liberdade de expressão partem exclusivamente do Estado, em nível global confirma-se a tendência de concentração da propriedade e controle da mídia por uns poucos megaempresários.

Na verdade, uma das conseqüências da crise internacional que atinge, sobretudo, a mídia impressa tem sido a compra de títulos tradicionais por investidores – russos, árabes, australianos, latino-americanos, portugueses – cujo compromisso maior é exclusivamente o sucesso de seus negócios. Aparentemente, não há espaço para o interesse público.

Na Europa e nos Estados Unidos

Já aconteceu com os britânicos The Independent e The Evening Standard e com o France-Soir, na França. Na Itália, rola uma briga de gigantes no mercado de televisão envolvendo o primeiro ministro e proprietário de mídia Silvio Berlusconi (Mediaset) e o australiano naturalizado americano Rupert Murdoch (Sky Itália). O mesmo acontece no Leste europeu. Na Polônia, tanto o Fakt (o diário de maior tiragem) quanto o Polska (300 mil exemplares/dia) são controlados por grupos alemães.

Nos Estados Unidos, a News Corporation, de Murdoch, avança a passos largos: depois do New York Post, o principal tablóide do país, veio a Fox News, canal de notícias 24 horas na TV a cabo; o tradicionalíssimo The Wall Street Journal; o estúdio Fox Films e a editora Harper Collins. E o mexicano Carlos Slim é um dos novos acionistas do The New York Times.

E no Brasil?

Entre nós, anunciou-se recentemente que o Ongoing Media Group – apesar do nome, um grupo português – que edita o Brasil Econômico desde outubro, comprou o grupo O Dia, incluindo o Meia Hora e o jornal esportivo Campeão. O Ongoing detém 20% do grupo Impressa (português), é acionista da Portugal Telecom e controla o maior operador de TV a cabo de Portugal, o Zon Multimídia.

Aqui sempre tivemos concentração no controle da mídia, até porque , ao contrário do que acontece no resto do mundo, nunca houve preocupação do nosso legislador com a propriedade cruzada dos meios. Historicamente são poucos os grupos que controlam os principais veículos de comunicação, sejam eles impressos ou concessões do serviço público de rádio e televisão. Além disso, ainda padecemos do mal histórico do coronelismo eletrônico, que vincula a mídia às oligarquias políticas regionais e locais desde pelo menos a metade do século passado.

Desde que a Emenda Constitucional nº 36, de 2002, permitiu a participação de capital estrangeiro nas empresas brasileiras de mídia, investidores globais no campo do informação e do entretenimento atuam aqui. Considerada a convergência tecnológica, pode-se afirmar que eles, na verdade, chegaram antes, isto é, desde a privatização das telecomunicações.

Apesar da dificuldade de se obter informações confiáveis nesse setor, são conhecidas as ligações do Grupo Abril com a sul-africana Naspers; da NET/Globo com a Telmex (do grupo controlado por Carlos Slim) e da Globo com a News Corporation/Sky.

Tudo indica, portanto, que, aos nossos problemas históricos, se acrescenta mais um, este contemporâneo.

Quem ameaça a liberdade de expressão?

Diante dessa tendência, aparentemente mundial, de onde partiria a verdadeira ameaça à liberdade de expressão?

Em matéria sobre o assunto publicada na revista CartaCapital nº 591, o conhecido professor da New York University, Crispin Miller, afirma em relação ao que vem ocorrendo nos Estados Unidos:

"O grande perigo para a democracia norte-americana não é a virtual morte dos jornais diários. É a concentração de donos da mídia no país. Ironicamente, há 15 anos, se dizia que era prematuro falar em uma crise cívica, com os conglomerados exercendo poder de censura sobre a imensidão de notícias disponíveis no mundo pós-internet (...)."

Todas estas questões deveriam servir de contrapeso para equilibrar a pauta imposta pela grande mídia brasileira em torno das "ameaças" à liberdade de expressão. Afinal, diante das tendências mundiais, quem, de fato, "controla" a mídia e representa perigo para as liberdades democráticas?


FONTE: Observatório da Imprensa - http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=586JDB016

O sensacionalismo na televisão


Os primeiros elementos sensacionalistas da imprensa brasileira foram encontrados em folhetins, a partir de 1840.

Para Angrimani (1995), o sensacionalismo é caracterizado, primordialmente, pelo tipo de linguagem utilizada, seja na imprensa, televisão ou rádio. Ele afirma que não há distanciamento, nem proteção de neutralidade na linguagem sensacionalista.

A situação é praticamente a mesma em vários estados brasileiros. As afiliadas das grandes redes de televisão normalmente têm, na sua programação, programas popularescos que invocam a bestialidade e a “ignorância” do povo.

Por trás de uma justificativa não muito convincente, os apresentadores desses telejornais alegam que está prestando grande serviço a população, estão dando voz ao povo que tanto é esmagado pela classe mais alta da sociedade, e que apenas estes programas são a solução para tal descaso.

A imprensa como um todo trabalha com a idéia de que o que é bom é o que o povo gosta. E em busca da audiência tão almejada algumas regras da ética e da moral são deixadas de lado.

Boa parte da imprensa brasileira admite o fato policial como um atrativo para o público e por isso dificilmente um crime deixa de ser noticiado.

Ao falarmos de sensacionalismo, falamos da manipulação da informação, onde essa é apresentada num formato exagerado ou enganador. A exploração de notícias sensacionalista gera audiência, o que pode resultar em mais sensacionalismo. Ela pode vir expressa na apresentação visual, no tema e na forma de apresentar o discurso.

Marcondes Filho descreve a prática sensacionalista como nutriente psíquico, desviante ideológico e descarga de pulsões instintivas. Caracteriza sensacionalismo como “o grau mais radical de mercantilização da informação: tudo o que se vende é aparência e, na verdade, vende-se aquilo que a informação interna não irá desenvolver melhor do que a manchete. Esta está carregada de apelos e carências psíquicas das pessoas e explora-as de forma sádica, caluniadora e ridicularizadora. [...] No jornalismo sensacionalista as noticias funcionam como pseudo-alimentos as carências do espírito [...] O jornalismo sensacionalista extrai do fato, da noticia, a sua carga emotiva e apelativa e a enaltece. Fabrica uma nova noticia que a partir daí passa a se vender por si mesma”. (FILHO, apud AGRIMANI, 1995).
Os noticiários sensacionalistas servem apenas para satisfazer as necessidades instintivas do público através de calunia e ridicularização das pessoas. A imprensa sensacionalista desvia o público de sua realidade imediata.

Marcondes Filho escreve que “escândalos, sexo e sangue compõem o conteúdo dessa imprensa [...] como as mercadorias em geral, interessa ao jornalista de um veiculo sensacionalista o lado aparente, externo, atraente do fato. Sua essência, seu sentido, sua motivação ou sua história estão fora de qualquer cogitação”.(FILHO, apud ANGRIMANI,1995).

A linguagem sensacionalista não pode ser sofisticada, tem que ser o mais próximo possível do público ao qual deseja atingir.

A linguagem utilizada é a coloquial, diferente da usada nos jornais informativos comuns, é utilizada a linguagem coloquial exagerada, com emprego excessivo de gírias e palavrões.

“A narrativa (sensacionalista) transporta o leitor; é como se ele estivesse lá, junto ao estuprador, ao assassino, ao macumbeiro, ao seqüestrador, sentindo as mesmas emoções. Essa narrativa delega sensações por procuração, porque a interiorização, a participação e o reconhecimento desses papéis, tornam o mundo da contravenção subjetivamente real para o leitor. A humanização do relato faz com que o leitor reviva o acontecimento como se fosse ele o próprio autor do que está sendo narrado”. (ANGRIMANI, 1995).
Muniz Sodré (2006) entende que o aumento exponencial da violência, em todas as suas formas, na maior parte dos grandes centros urbanos da América Latina e do resto do mundo, assim como o primado avassalador dos meios de comunicação sobre as formas de acesso de jovens e adultos às regras de relacionamento intersubjetivo no espaço social, coloca continuamente a mídia no centro das interrogações sobre o fenômeno da violência.

Podemos trabalhar com a hipótese de que, no território nacional a violência criminal cresce diretamente ao aumento populacional nos grandes centros urbanos e da deterioração das condições de vida tais como: o desemprego, subemprego, deficiência alimentar, a falta de moradia.

Geralmente, o rótulo sensacionalista está ligado aos programas e jornais que dão um enfoque maior às coberturas policiais, com a superexposição da violência, a exibição de imagens e fatos chocantes.