quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Programas populares em Alagoas

Poliana Lima


A violência é um fenômeno que acompanha o trajeto histórico da humanidade, ocupando os diversos espaços da esfera social, produzindo grandes efeitos a nível local, nacional e internacional. A violência em Alagoas está intimamente ligada à formação econômico-social do Brasil, que atendeu ao projeto violento da colonização. A formação da sociedade alagoana foi diretamente influenciada por tal fato e a violência está presente em todo o seu processo de formação.

A violência é disseminada através da mídia por meio dos noticiários que revelam altos índices de criminalidade praticada por indivíduos de diversas classes sociais. Os programas populares se propagaram por todo o Brasil, atingindo todas as camadas sociais. E foram através desse novo segmento de jornalismo que a violência passou a ser explorada mercadologicamente por esses programas que ganhou grandes proporções no cenário nacional.

Na televisão esses programas surgem na década de 1990. Alguns exemplos desses programas são; “O Homem do Sapato Branco”, “O Povo na TV”, “Aqui Agora”, “Cadeia” entre outros. No final da década esses programas já haviam sido extintos e novos programas nesse segmento foram reelaborados surgindo assim o “Cidade Alerta”, “Brasil Urgente”, “Ratinho” e “Linha Direta”.

Em Alagoas, os programas com enfoque policial começaram no gênero radiofônico, em 1984, na Radio Progresso. Um de seus precursores foi o radialista Jeferson Morais, que na época trabalhava no jornal de Alagoas como produtor de polícia. Em 1990, ele e Cícero Almeida, então repórter, foram convidados pela TV Alagoas, na época afiliada da Rede Manchete, a implantarem o gênero na televisão alagoana.
Foi o inicio do Boletim de Ocorrência na TV. Em sua primeira edição contava com a apresentação de Jeferson Morais e reportagens de Denis Melo, Gonça Gonçalves, Odivas Santos e Cícero Almeida.

A TV Pajuçara, percebendo o crescimento desse segmento de programa, convidou Jeferson Morais para apresentar o Fique Alerta. Feito nos mesmo moldes do Plantão Alagoas (o programa Boletim de Ocorrência na TV atual Plantão Alagoas foi o pioneiro na cidade nos programas do tipo, sendo copiada por outras afiliadas e pela própria concorrente, TV Pajuçara, que lançou o Fique Alerta).

Existe a visão que caracteriza programas com o mesmo formato que o Fique Alerta como produções voltadas a um jornalismo popular. O jornalismo popular é aquele que carrega traços culturais de uma determinada sociedade e utiliza maneiras próprias de se dirigir ao seu público, buscando representar a cultura de fácil entendimento, de maneira que qualquer pessoa, independente de classe social ou cultural, compreenda a mensagem.

A imprensa contemporânea reivindica para si o posto de “quarto poder” pela ausência do poder público. Tal reivindicação faz parte de uma estratégia de empresarial, para encobrir seus interesses de empresa jornalística.

Esse novo modelo de programa lança mão de interpretações teatrais com a ajuda de recursos audiovisuais. Toda essa forma de comunicação permite ao expectador cobrar mais repressão policial e penas mais severas contra o “mal” que sobressalta homens e mulheres de “bem”.

Essa forma de falar da violência serve estrategicamente para reafirmar o papel da mídia como substituta do Estado, ao se compromissar com o resgate da cidadania, mostrando de forma sutil a ineficácia do Estado em resolver o problema da violência. No programa Fique Alerta existe um quadro chamado “Caixa Postal” ao qual o telespectador tem vez e voz para falar sobre o que está acontecendo em seu bairro e cobrar soluções dos Poderes Públicos.

Portanto os Programas Policiais apresentam-se como meios de comunicação que possuem ideologia, onde influenciam a população alagoana na compreensão do fenômeno da violência, a fim de adquirir audiência para efetivar seus interesses econômicos, tendo em vista que a notícia se configura como uma mercadoria que possui como objetivo final o lucro. Esse tipo de programa não possui o interesse de divulgar informações de “qualidade”, que permitam ao telespectador refletir sobre os fatos noticiados, a fim de que se torne um sujeito crítico que possa contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas junto aos Poderes Públicos a fim que a haja a amenização da violência.

Viviane Mansi: 'ferramentas colaborativas não são a solução para todos os males das empresas, e sim a conversa'


Christina Lima


Motivado pela divulgação de um estudo indicando que apenas uma em cada dez empresas envolve a área de TI em projetos de criação e manutenção de redes sociais na internet, o Nós da Comunicação ouviu Viviane Mansi, gerente de Assuntos Corporativos na indústria farmacêutica Merck Sharp & Dohme, consultora e professora de gerenciamento da comunicação interna na Faculdade Cásper Líbero.

Nós damos sequência à discussão após termos entrevistado Mauro Segura, diretor de Marketing e Comunicação da IBM Brasil, para que ele comentasse o resultado da pesquisa. Veja em ‘Só 10% das empresas envolvem TI em projetos na web’.

Confira abaixo o que pensa Viviane Mansi sobre o tema.

Nós da Comunicação – Não envolver a área de TI em projetos de redes sociais nas empresas é certeza de ter retrabalho. Por quê?

Viviane Mansi – Porque, normalmente, as empresas já possuem guidelines do que é possível ser feito e do que não é. Um dos grandes problemas que temos ao trabalhar na Comunicação é que queremos usar as ferramentas colaborativas e uma série de novidades que, muitas vezes, esbarram nas políticas de segurança das empresas. Podemos ter um trabalho lindo com ideias maravilhosas, fechamos com o fornecedor externo, e a TI avisa: ‘sinto muito, mas não vai dar, não’. Essa situação acaba chateando a área de tecnologia, que deixou de ser considerada parceira na decisão. Nós falamos tanto de sinergia interna e, dessa forma, deixamos de fazer também nosso papel de provocar essa sinergia, e todos acabam perdendo. Se o projeto é para nascer direito, temos de envolver todas as áreas que são importantes no processo, e não há como negar que TI é uma área fundamental.

Nós da Comunicação – E como lidar com a fila de projetos a serem implementados pela TI que, em algumas empresas, chega a dois, três anos de espera?

V. M. – Trabalho em uma empresa cuja realidade é exatamente essa. Projetos novos entram numa fila que já acumula inúmeros outros. Mas temos de entrar em acordo. Em muitas situações, a TI diz: ‘ok, entendo sua necessidade de fazer isso já, mas não posso atender, toca por fora’ – e isso é muito diferente porque, dessa forma, o departamento não criará caso. Se a Comunicação prossegue à revelia, pode ter a certeza de que a TI vai boicotar o projeto.

Falamos tanto em confiança que, de alguma maneira, precisamos exercitá-la. Mesmo que o projeto em que estamos envolvidos seja tocado ‘por fora’, a TI pode, por exemplo, ajudar a encontrar o melhor fornecedor externo, aparar arestas internas para aprovar mais rápido, fornecer guidelines fundamentais de segurança para processos feitos fora etc.. Essa negociação é essencial de qualquer jeito. Muitos colegas de outras empresas comentam um problema que é bem real: a TI tem a ‘Política do Não Pode’ por causa da segurança, e, muitas vezes, ficamos chateados ao tentar fazer algo moderno, inovador, que vai ao encontro da proposta de diálogo das organizações, e chega alguém e diz que não pode. De qualquer forma, negociar para encontrar esse caminho estreito entre aquilo que preserva a segurança da empresa e o que ajuda os funcionários a se comunicar melhor também é nosso trabalho.

Nós da Comunicação – A TI bate muito na tecla da segurança, mas há outros fatores que justifiquem a resistência das empresas à incorporação de projetos de redes sociais?

V. M. – Há muitas resistências, e as da TI nem são as que causam mais problemas. Já a gestão das empresas, sim tem muitos receios com relação às redes sociais e com a questão de deixar os funcionários falarem livremente, por muitas razões: primeiro, por medo do que pode ser dito. Quem está em um cargo de gestão tem consciência de que muito do que os funcionários dizem pode ir contra opiniões e rumos da empresa, gerando uma grande discussão que a companhia pode não estar preparada para responder. Essa situação causa uma ‘saia justa’ que contribui para que os processos não caminhem rapidamente. Se a área de Comunicação, no início da conversa, ajuda a definir uma política com planejamento com relação às redes sociais, diminui essa insegurança da gestão. Quando essa gestão é mais aberta e transparente em suas práticas para falar, muito provavelmente ela conseguirá incluir isso como um dos elementos de comunicação interna de forma mais madura, rápida e eficiente.

Como gestão tem um histórico mais fechado, também fica mais difícil implantar tudo isso nas empresas. O mercado farmacêutico, por exemplo, historicamente, sempre foi muito fechado. Essa indústria passou a abrir um diálogo com a sociedade, com o governo, com imprensa há apenas 15 anos. Imaginarmos que é fácil e rápido implementar ferramentas colaborativas na empresa é um equívoco. Esse mercado exige mais energia dos profissionais que estão lidando com isso do que os que atuam em indústrias de serviços ou produtos, que já nasceram influenciadas pelo diálogo com o consumidor. A indústria de cosméticos discute produtos pelo Facebook ou Orkut, produtos são testados por consumidores antes do lançamento. Para esse perfil de empresa, criar uma rede interna de colaboração deve ser muito mais fácil, pois está no DNA daquilo que ela faz.

Nós da Comunicação – Por que a área de TI, hoje, é considerada tão importante como a área de Recursos Humanos?

V. M. – Muito da matéria-prima daquilo que interessa o funcionário sai de RH como benefícios, políticas, estrutura da empresa. De outro lado, tudo que fazemos hoje está ligado, de alguma maneira, à tecnologia. Por mais que eu, particularmente, acredite que comunicação face a face seja imprescindível e deva ser tratada como a mais importante dentro da empresa, quando temos uma situação em que grande parte dos funcionários não está no mesmo prédio ou nem sequer na mesma cidade, usamos a tecnologia para aproximar as pessoas por meio de videoconferência ou conectados no mesmo ponto. Até para o face a face tecnologia é essencial. Cada um deve contribuir com o que tem de melhor. O forte da Comunicação não é entender de tecnologia, e sim trabalhar com o técnico que sabe fazer isso bem feito para que a gente cuide daquilo que sabemos: discurso, diálogo, texto.

Nós da Comunicação – Por que a ainda não há uma integração ideal nos trabalhos das áreas de TI, RH e Comunicação?

V. M. – São muitas causas. Nem sempre as empresas têm estrutura de comunicação que, de fato, tenha condições de ajudar a operação. Para isso, é preciso uma área menos focada em produto, ou seja, menos fazedora de revista interna e assessoria de imprensa, e mais planejadora, que esteja de olho nos rumos que a empresa tomará, qual a forma adequada de se comunicar com os funcionários, enfim, mais estratégica. E esse não é exatamente o perfil que a gente encontra na maior parte das companhias. A partir do momento que existe uma área que chegou a esse estágio, o próximo passo é mostrar para as outras áreas que a Comunicação não compete com elas, e sim pode ajudar. Quando a Comunicação é vista como parceira nas horas boas e ruins, é uma quebra de paradigma. As outras áreas já começam a perceber que podemos oferecer propostas para diversos tipos de necessidades, e aí a verba aparece.

Nós da Comunicação – As redes sociais são uma evolução sem volta. Em sua opinião, como as empresas brasileiras estão lidando com elas?

V. M. – No geral, temos de dar tempo para o aprendizado. Em algumas empresas, ele é mais rápido porque dispõe de figuras internas que compram a ideia de tal forma que, por si só, motivam que outras a utilizem. Quando uma ferramenta colaborativa é lançada e os diretores participam bastante, de alguma maneira, eles criam um espaço seguro para os outros funcionários testarem e se abrirem também. Em organizações em que as ferramentas são colocadas à disposição, mas não há uma campanha atraente e o uso não é motivado, obviamente, não será a preferência de ninguém, por ser uma zona desconhecida, onde ninguém quer muito se meter. Mais do que fazer uma megacampanha incentivando todo mundo, se for possível demonstrar que é seguro participar e falar, todo mundo compra a ideia mais facilmente.

Devemos considerar também que há empresas com perfil de funcionário jovem, que já nasceu na era tecnológica, é da geração Y, e vai preferir se comunicar de uma forma rápida e clara. Outras companhias têm mais funcionários que não vêm dessa geração e preferem o olho no olho e a velha e boa conversa. Nessas empresas, é preciso avaliar se, de fato, a ferramenta colaborativa é a melhor opção ou se não devemos repensar o modelo de colaboração e organizar rodas de conversas, um estilo mais tradicional e que, provavelmente, para esse perfil de pessoas, seja mais eficiente. As ferramentas colaborativas não são a solução para todos os males, e sim a conversa. Mas, por meio tecnológico, a conversa resolve boa parte de nossos problemas porque diminui custo, é rápida, ativa e de mão dupla.


FONTE: http://www.nosdacomunicacao.com/panorama_interna.asp?panorama=269&tipo=E